Dicas 51

De Wiki Pastoral da Criança
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Este Dicas tem uma diferença. Ele foi feito especialmente para ser usado pelos brinquedistas, mas poderá ser também usado pelos coordenadores, multiplicadores e capacitadores a quem geralmente é destinado. Foi escrito para servir de apoio à preparação de pessoas para serem brincadores e atuarem no Dia da Celebração da Vida. Esperamos assim que possam ser criadas mais oportunidades para as crianças brincarem juntas e que a brincadeira esteja sempre presente nas famílias e nas comunidades acompanhadas pela Pastoral da Criança.

Dicas 51 Anexo WEB.pdf

Conhecendo a Pastoral da Criança

A Pastoral da Criança foi criada em 1983 para enfrentar o desafio de salvar a vida dos pequeninos, pois muitas crianças morriam de doenças que podiam ser prevenidas como a desidratação provocada pela diarreia. Aos poucos, ajudando a vencer esse desafio inicial, a Pastoral foi ampliando sua atuação e hoje em dia trabalha para a criação de um ambiente favorável ao desenvolvimento integral da criança, desde a gestação até completar seis anos de idade. Essa é a missão da Pastoral: contribuir junto às famílias para que todas as crianças possam ter as condições necessárias para se desenvolver e ter vida em abundância. Sua atuação direta é junto às famílias mais pobres e é fundamentada na mística cristã, que une fé e vida.

O trabalho da Pastoral da Criança é feito porque, em cada comunidade, pessoas são chamadas e se comprometem a atuar voluntariamente, tornando-se líderes da Pastoral da Criança. São pessoas que vivem e demonstram com seu exemplo o amor ao próximo. É um verdadeiro trabalho de Caridade Cristã!

Ações Básicas de Saúde, Nutrição, Educação e Cidadania

O líder da Pastoral da Criança vai, de casa em casa, acompanhando gestantes e crianças de famílias próximas. Com isso, ele e milhares de líderes da Pastoral da Criança estão continuando o projeto de Jesus aqui na Terra: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância.” Jo 10,10.

O líder acompanha gestantes e, no máximo, 15 crianças, realizando, todo mês, três atividades principais:

Visita Domiciliar, na qual o líder pode conversar com a gestante, os pais e familiares da criança.

Dia da Celebração da Vida, quando os líderes reúnem as famílias para conversar e celebrar o desenvolvimento das crianças. É nesse dia também que as crianças são pesadas e podem brincar juntas.

Reunião para Reflexão e Avaliação, momento em que os líderes avaliam o trabalho realizado, aprendem mais e celebram.

Para fazer esse trabalho, os líderes são capacitados no Guia do Líder da Pastoral da Criança que é o e-Guia da gestação aos 6 anos no aplicativo Pastoral da Criança + Gestante, e contém as “Ações Básicas de Saúde, Nutrição, Desenvolvimento Infantil e Cidadania”.

Ação Brinquedos e Brincadeiras

Além do líder da Pastoral da Criança há outros voluntários que atuam nas comunidades em outras ações e também fazem parte da equipe. Uma delas é “Brinquedos e Brincadeiras”, que é uma ação complementar às ações básicas que estão no e-Guia da gestação aos 6 anos. Esta ação conta com o trabalho voluntário dos brinquedistas, que são os defensores da brincadeira da criança. Eles procuram aproveitar e ampliar as oportunidades para que as crianças possam brincar mais em casa e na comunidade.

A “Ação Brinquedos e Brincadeiras” tem por objetivo aumentar as oportunidades para as brincadeiras infantis, apoiando as famílias na criação de um ambiente favorável ao desenvolvimento e educação de suas crianças. Usamos o e-Brinquedos e Brincadeiras do aplicativo Pastoral da Criança + Gestante como instrumento de capacitação de brinquedistas, brincadores e para divulgar seu uso pelas famílias e assim fortalecer ainda mais o direito de brincar.

Necessidades básicas da criança

A Pastoral da Criança quer contribuir para que as crianças tenham “vida em abundância”, ou seja, saúde e oportunidades para aprender e se desenvolver. E o atendimento às necessidades básicas da criança é condição para seu desenvolvimento. Essas necessidades são: amor, alimento, sono, convivência com adultos e outras crianças e a brincadeira.

O bebê e a criança sentem o amor da mãe, do pai e da família pela atenção, pelos cuidados que recebem deles desde a gestação. O amor é a base da formação de uma criança segura e feliz. Outra necessidade é a de alimento: o bebê precisa do leite materno, que é mais bem digerido pelo seu estômago e tem tudo que ele precisa até os seis meses de vida; depois vai precisar receber, aos poucos, a oferta de outros alimentos que sejam saudáveis, variados, limpos e frescos para crescer, ter saúde, energia. O sono também é muito importante: a criança que não dorme um sono tranquilo e repousante pode adoecer, ficar agitada, irritadiça e até com dificuldade de concentração. A convivência com as pessoas, sejam adultos como pais, avós, tios, vizinhos, ou outras crianças do lugar em que a criança mora é que permite que ela aprenda a se movimentar, a se comunicar, a se relacionar, ou seja, forme seu modo de ser e agir, sua personalidade.

Mas e a brincadeira ? Por que ela é também uma necessidade básica da criança? 

A maioria das pessoas pensa que a criança brinca apenas para se distrair e ter prazer, mas a razão principal da criança brincar é a necessidade. Para entendermos isso, precisamos entender quais são as necessidades que a fazem brincar e ver como a própria atividade de brincar evolui: brincar é diferente para um bebê, uma criança de dois, uma criança de quatro, cinco anos.

No bebezinho bem pequeno observamos certas brincadeiras que servem para aprimorar seus sentidos como a visão, o olfato, a audição; para coordenar seus movimentos e também manter junto o adulto que cuida dele, que é o que o bebê mais quer e precisa. Então o bebê brinca com o rosto, as mãos da mãe, do pai, das pessoas que estão sempre com ele. Mas, como os adultos têm outros afazeres, para ocupar, distrair e estimular o bebê vão oferecendo brinquedos e objetos e chamam a atenção do bebê para eles. O bebê, aos poucos, vai se interessar por esses objetos porque são oferecidos pela mãe, pelo pai. Vai gostando também de ficar perto e brincar com outras crianças.

À medida que vai ficando maior, para continuar com a mãe e o pai junto dela a criança brinca de faz de conta. O faz de conta é uma atividade na qual a criança assume o papel do adulto, procura fazer o que ele faz e, dessa forma, lida com a ausência dos pais. Nessa brincadeira ela procura também entender o significado das atividades dos adultos, as relações que eles estabelecem com as pessoas, as regras de convivência, os valores e costumes de sua família e do lugar onde vive. E, como vai ficando mais independente porque já se movimenta e faz mais coisas por conta própria, inclusive o que não pode, os pais são obrigados a dar limites para a criança. Para aprender a aceitar os limites, ela então faz, na brincadeira, aquilo que lhe é proibido. No faz de conta a criança pode vivenciar também situações de medo e angústia para conseguir conviver com esses sentimentos, pois pode parar de brincar quando não conseguir lidar com a situação.

Portanto, a criança brinca por necessidade e não só para ter prazer como a maioria das pessoas pensa. Isso porque há brincadeiras que não dão prazer e até fazem a criança ficar irritada ou descontente, como quando não consegue vestir roupas na boneca, ou quer correr e precisa ficar quieta.

E, para nos lembrarmos sempre dessas necessidades, vamos colocá- las numa mãozinha que pede que todas as crianças possam ter vida em abundância.

Criança tem que brincar muito. Mas quem escolhe a brincadeira da criança?

Quando falamos de brincadeira da criança, estamos falando da atividade na qual ela é quem decide quando, com o quê e como quer brincar. Na hora de comer, de dormir, de tomar banho ela tem que obedecer à mãe ou ao pai. Mas a brincadeira deve ser regulada pela criança, ela brinca pelo brincar e não para responder a um pedido, ordem ou objetivo do adulto. Portanto é o espaço para ela formar sua vontade e ganhar autonomia, isto é, decidir o que quer fazer, julgar o que gosta ou não gosta de fazer, aceitar ou não o que lhe é proposto. Na brincadeira a criança vai precisar, muitas vezes, negociar com outras crianças, combinar a maneira de brincar, vai aprendendo a ceder ou lutar pelo que quer, vai vendo os limites de sua força. Brincando, ela aprende a fazer escolhas e a dizer não quando propuserem algo de que ela não gosta ou acha que não é bom, e isso será importante em toda a sua vida.

Dizer que na brincadeira a escolha é da criança. Não quer dizer que ela vai desrespeitar limites colocados pelos adultos e, sim, lidar com eles de outra forma. Por exemplo: ela quer mexer na televisão e o pai não deixa. Então ela brinca que está ligando e desligando “sua televisão”, que é uma caixa que ela chama de televisão. Nas brincadeiras infantis também estão presentes as regras, estejam elas apresentadas claramente ou não. Por exemplo, ao brincar de “mãe e filha”, a criança que faz o papel de mãe tem que ter as atitudes de uma mãe; a que faz o papel de filha, as de uma filha; ou seja, as regras desses comportamentos estão presentes na brincadeira, só que não são ditas claramente, ou seja, a criança se submete a regras da vida real. Já na brincadeira de “amarelinha” as regras estão claras: tem que pular num pé só, não pode pisar na linha. Portanto, não existe brincadeira sem regra e vivenciar regras ao brincar vai facilitar a criança a entender e respeitar regras colocadas pelo adulto as quais ela tem que obedecer.

Ao brincar a criança se desenvolve porque:

• aprimora seus sentidos como a visão, a audição, o tato e a coordenação de seus movimentos;

• vai conhecendo para que servem os objetos e brinquedos;

• desenvolve sua linguagem, sua imaginação e seu pensamento;

• vivencia situações de medo e angústia para conseguir lidar com elas;

• experimenta ganhar e perder;

• aprende e compreende as atividades, os costumes dos adultos, as relações entre as pessoas.

Brincando ao ar livre e tomando sol, a criança também favorece sua saúde:

• seus ossos e músculos ficam mais fortes;

• diminui o risco de ter sobrepeso e obesidade e até problemas de coração no futuro;

• fica com mais apetite e também dorme melhor.

Brincar é um direito da criança

Por ser tão importante, o brincar é assegurado como um direito no Estatuto da Criança e do Adolescente (artigo 16). E precisa ser defendido como direito porque hoje em dia vemos, principalmente nas grandes cidades, que estão diminuindo os momentos para as crianças brincarem, principalmente, juntas e ao ar livre. Temos a televisão que ocupa um tempo cada vez maior nas atividades delas; mães e pais precisam se ausentar para o trabalho por um longo período, impedindo que convivam e brinquem mais com seus filhos e filhas; a insegurança nas ruas que impede o brincar em calçadas, praças e parques e também há falta desses espaços nas cidades. A criança sempre arranja jeito de brincar, mas o tempo e os espaços para ela brincar livremente é que estão menores.

Os brincadores

Nas comunidades com Pastoral da Criança, acontece todo mês o Dia da Celebração da Vida. Para que esse momento se torne mais enriquecedor e agradável para todos é preciso ter pessoas para organizar um espaço para as brincadeiras, enquanto os líderes pesam as crianças e conversam com suas famílias. Já existem os brinquedistas que atuam nesse dia, mas é necessário ter mais pessoas. 

Essas pessoas seriam os brincadores. Eles teriam o compromisso de organizar, todo mês, no local da Celebração da Vida, um espaço para as crianças brincarem. No caso de haver brinquedos, eles serão colocados onde houve lugar nesse espaço, pois o brinquedo é um ótimo suporte para o brincar. O brincador traz também sugestão de brincadeiras variadas como: jogar bola, pular amarelinha, brincar de roda entre outras, e convida as crianças, ou seja, propõe, nunca impõe, as brincadeiras. 

Por ser a brincadeira uma atividade regulada pela criança, a atitude básica do brincador é estar atento para proteger as crianças e disponível para o que elas pedirem e para propor brincadeiras. Então, para não tirar da criança a decisão na brincadeira, o brincador ou o brinquedista deve cuidar principalmente para que as crianças não se machuquem, não machuquem outras crianças e não ultrapassem os limites do que é seguro fazer no local em que estão. 

Os brinquedistas são os responsáveis por preparar, apoiar e acompanhar a atuação dos brincadores. Os líderes, que sempre estão sempre presentes no dia da Celebração da Vida, podem ajudar na orientação aos brincadores.

Agora você já sabe a importância da brincadeira para o desenvolvimento da criança e o que se espera de um brincador. Você quer ser um brincador da Pastoral da Criança?

Será muito bom ter mais um “anjo da guarda” das brincadeiras das crianças na comunidade.

“Porque aos seus anjos ele mandou que te guardem em todos os teus caminhos”. Sl 90,11